terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A SUSTENTABILIDADE NO AGRONEGÓCIO

Vale a pena ler esta matéria de Luciana Miura (Equipe de Sustentabilidade PricewaterhouseCoopers).
O advento de tecnologias adaptadas para as condições do solo e do clima brasileiro modificou toda a estrutura do setor agrícola no país. A botecnologia e a última geração de maquinários agrícolas, por exemplo, foram algumas das inovações que permitiram ao país alcançar índices de produtividade nunca vistos nas últimas décadas. O Brasil passou, então, da condição de comprador para a de exportador das principais commodities agrícolas, estando no topo do ranking mundial na produção de grãos e carnes.
Por outro lado, a intensificação da produção de alimentos não foi acompanhada por ações visando a mitigação de impactos socioambientais. Na tentativa de atender à crescente demanda mundial de alimentos, a agricultura brasileira entraria em colapso devido ao esgotamento de seus recursos naturais e aos contínuos conflitos do campo. Conflitos estes que são frutos da exclusão e do abandono de uma considerável parcela da população rural.
O fato de a legislação e fiscalização ambiental brasileira atuarem de maneira mais branda na agricultura, quando comparada à rigidez aplicada às indústrias, faz com que as ações de redução de impactos ao meio ambiente ocorram apenas quando partem de iniciativas dos próprios agricultores. A conscientização destes virá, num primeiro instante, da necessidade de atender aos novos requisitos das demandas externas.
Por exemplo, um típico consumidor europeu certamente não adquirirá um produto ao saber que durante o seu processo foi utilizada mão-de-obra infantil ou, mesmo, que os resíduos gerados não foram devidamente tratados.
Isso representa um alto impacto na economia do país, uma vez que, para escoar os produtos ao mercado internacional, não importam apenas a qualidade e a produtividade da safra e, sim, evidenciar a solução de pontos críticos do sistema que afetam direta ou indiretamente a sociedade.
Neste contexto, é de extrema importância que o agricultur brasileiro entenda o conceito de sustentabilidade e adote ações apropriadas a sua realidade.
O conceito de sustentabilidade aplicado ao setor de agronegócios baseia-se na integração dos princípios econômicos (maximização do retorno do capital para o investidor e o empreendedor rural, lucratividade no longo prazo, manutenção de pequenas propriedades rurais, fixação do homem no campo), ambientais (preservação e otimização do uso dos recursos naturais, eco-eficiência, energia renovável) e sociais (não utilização de mão-de-obra escrava ou infantil, cidadania, geração de emprego, engajamento das partes interessadas) à compreensão e avaliação das tecnologias sobre os sistemas agroindustriais e da sociedade como um todo.
Um dos fatos mais perceptíveis do impacto ambiental na agricultura brasileira foi o aumento sucessivo, nas últimas décadas, do percentual de perda nas safras devido a alterações climáticas drásticas. Tais perdas acabam por gerar um maior endividamento dos produtores e maiores taxas de desemprego, além da redução do PIB do país.
A tendência é que a situação se agrave, pois, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), há uma previsão de que a temperatura ao longo do século chegue a ser superior a até 5,8º C da temperatura média atual. Tal aumento inviabilizaria a produção de diversos tipos de grãos consumidos no mundo. As perdas na produção agrícola provocariam, então, um cenário ainda maior de instabilidade econômica.
Sabendo-se que todos os aspectos produtivos estão inter-relacionados, desde o agricultor até o consumidor final, só será possível fazer a projeção de elevada demanda de alimentos quando se conseguir garantir condições de durabilidade em longo prazo e prosperidade, além do melhor gerenciamento de riscos socioambientais, externos e inerentes. Logo, uma produção sustentável deverá englobar elementos que garantam a conservação dos recursos naturais, a satisfação das necessidades da população rural e a viabilidade econômica em longo prazo.
Fonte: Revista Meio Ambiente Industrial/Novembro/Dezembro-2006.

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